Conceitos básicos da Alquimia

Por séculos o trabalho dos alquimistas permaneceu envolto em mistério, tinha acesso a ele apenas um grupo hermético que se dedicava a seu estudo grande parte da própria vida.

A palavra latina alchimia tem origem árabe الخيمياء (Al’kimia). Al’kimia por sua vez é uma adaptação de χημεία (chemia), palavra usada na Grécia Clássica para se referir ao reino do Egito Antigo. Uma breve meditação sobre esta etimologia nos revela todo caminho de origem e percurso deste conhecimento até sua chegada à Europa do Século XVIII. Desde então esta disciplina foi alvo de estudos de personalidades como Francis Bacon, Isaac Newton, Benjamin Franklin, Antoine de Lavoisier, Luigi Galvani, entre outros.

Muitos acreditam que assim como a medicina é o resultado da evolução dos antigos barbeiros medievais, que para se tornar ciência teve que deixar de lado superstições e abraçar o processo científico, a Alquimia evoluiu para a química moderna, deixando as antigas crenças para trás. Nada está mais longe da verdade: sua influência é enorme na filosofia, na arte e na história, e deu origem à química, à farmacologia e à psicologia analítica, mas mesmo dando origem a estes campos modernos, ela não se transformou neles: a Alquimia não desapareceu.

A seguir uma lista de alquimistas de destaque, século a século, até os dias de hoje.

Século III. Paphnutia a Virgem: Foi uma alquimista egípcia criticada pelo alquimista Zósimo de Panópolis em cartas a sua irmã Theosebeia (também uma alquimista). Nas cartas Paphnutia é considerada alguém sem instrução e que praticava incorretamente a arte. Muitos iniciados afirmam que se tratava de uma sacerdotisa ligada a uma escola alquímica concorrente às existentes que ensinava a arte para os rejeitados disponibilizando o conhecimento proibido para todos – o que causaria o descontentamento aos alquimistas da época.

Século IV. Agathodaemon: Foi um alquimista que viveu na era final do Egito Romano, conhecido por suas várias descrições de elementos e minerais e mais particularmente suas descrições de um método de produzir prata e uma substância que ele criou e batizou como “veneno de fogo”. Os únicos registros de sua existência são referências em trabalhos posteriores preservados e salvos por uma seita de cristãos dissidentes, autodenominada nestorianos e que fugiram da perseguição escapando para a Pérsia por volta de 400. Foram os responsáveis por levar aos árabes o conhecimento alquímico e contribuíram para o florescimento da Alquimia naquela região.

Século VII. Zhang Guo: Um dos Oito Imortais no panteão Taoísta. Sua biografia inclui histórias de como venceu a morte inúmeras vezes, a capacidade de se locomover por distâncias impossíveis em curto período de tempo e muito mais. Diferente de outros Imortais ele parece ter sido uma pessoa real.

Século VIII. Kalid: Khalid ibn Yazid foi um príncipe omíada que se interessou pelo estudo da Alquimia no Egito. Como colecionador de livros facilitou traduções para o árabe da literatura existente. O Liber de compositione alchimiae, primeiro trabalho alquímico traduzido do árabe para o latim por Robert de Chester em 1144, foi uma epístola recebida por Khalid.

Século XIII. Raimundo Lúlio: Responsável por trazer a arte da Alquimia dos muçulmanos árabes para a Europa Cristã.

Século XIV. Nicolas Flamel: Dedicou-se à tradução e explicação de pergaminhos hieróglifos que continham a receita para a produção da Pedra Filosofal.

Século XV. Cornélio Agrippa: Resgatou parte da Alquimia grega e a relacionou com outros conhecimentos ocultos como a astrologia, teurgia e cabala.

Século XVI. Paracelso: Estudou maneiras de aplicar as conquistas na prática da cura física mental e emocional. Grande espagirista e um dos pais da química moderna. Teria criado um homúnculo em seu laboratório.

Século XVII. Conde de St. Germain: Ganhou fama de possuir o segredo de produção do Elixir da Eterna Juventude e, portanto, da imortalidade. Infiltrou-se na corte francesa e influenciou grandemente a política europeia do período.

Século XVIII. Cagliostro: Após ser ovacionado pelo povo como “O divino” este alquimista foi aprisionado pela Inquisição por transformar chumbo em ouro. Ao tentar explicar a natureza simbólica do processo foi solto mas para sempre difamado como charlatão.

Século XIX. Fulcanelli: Este prolífico autor é conhecido por trazer a Alquimia à modernidade e revelar ao mundo como seus princípios estão presentes na arte e arquitetura europeia.

Século XX. Carl Gustav Jung: Toda a obra deste importante psiquiatra é repleta de influências alquímicas de onde surgiram importantes conceitos da psicanálise moderna.

Alquimia é todo e qualquer processo de transformação consciente. Para se caracterizar como alquímica a mudança deve ser proposital e intencional. Isso porque o ser humano está se transformando o tempo todo.

A Alquimia busca a transformação consciente de si próprio e do que o cerca, mas de uma forma transcendente e transformadora. De forma simples: Alquimia funciona a longo prazo, ela transforma você em outra pessoa.

O pequeno alquimista é aquele que executa as operações alquímicas e busca aperfeiçoá-las pela experimentação em direção a Pedra Filosofal. O Grande Alquimista é uma forma de se referir a inteligência suprema criadora de todas as coisas. No decorrer do seu trabalho o praticante percebe que ele é parte do Grande Alquimista e que o Grande Alquimista é parte de si.

Existem quatro objetivos principais na sua prática. Um deles seria a “transmutação da matéria” dos metais inferiores ao ouro; o outro seria a obtenção do Elixir da vida eterna. O terceiro objetivo seria o poder de criação do homunculus. O quarto objetivo a panaceia universal.

Alguns estudiosos da alquimia admitem que o Elixir da vida eterna e a Pedra Filosofal são temas reais, os quais apenas simbólicos, que provêm de práticas de purificação espiritual, e dessa forma, poderiam ser considerados substâncias reais.

Sendo a transmutação uma forma de descrever a ascensão da consciência a níveis mais nobres, o elixir da vida seria a consciência à percepção da imortalidade na medida em que a identificação vulgar com o corpo e com a mente são transcendidos.

A panacéia universal significa que todo os males do ego são obliterados pela imensidão da Consciência Cósmica. Uma consciência elevada por definição está acima dos apegos e dos sofrimentos próprios da personalidade abandonada em sua ignorância. E finalmente o Homunculus, a construção de um novo ser, com o alquimista como arquiteto da sua própria existência.

Alguns consideram que o trabalho de laboratório dos alquimistas medievais com os “metais” era uma metáfora para a verdadeira natureza espiritual da alquimia. Assim, a transformação dos metais em ouro pode ser interpretada como uma transformação de si próprio, de um estado inferior para um estado espiritual superior.

Portanto, a alquimia é uma arte filosófica, que busca ver o universo de outra forma, encontrando nele seu aspecto espiritual e Superior.

Assim como a Cabala, a Alquimia é uma arte simbólica.

Em seus “processos alquímicos”, chamado de “A Grande Obra”, manipulam matérias-primas como o sal, o mercúrio, o enxofre e o orvalho, onde cada item tem sua representação simbólica filosófica.

Segundo a própria filosofia alquímica, o conhecimento é válido segundo a prática e vivência e suas anotações devem ser realizadas e revisadas para que haja a expansão intencional da consciência.

Nenhum alquimista é estimulado a acreditar nos preceitos da Alquimia ou nas falas de gurus ou mesmo a aceitar algo só porque foi escrito por um alquimista anterior, por isso utilizam o diário para que os registros sejam feitos e que suas próprias hipóteses e experiências sejam encontradas.

É mencionado o uso de `metais`, onde estes se referem para cada estado mental. Os sete metais da Alquimia são sete níveis de consciência na seguinte ordem de desenvolvimento: Chumbo, Cobre, Ferro, Estanho, Mercúrio, Prata e Ouro. A transmutação da matéria significa elevar cada metal ao seu próximo estado. Um conceito importante é que com tempo suficiente todo metal naturalmente se converterá no ouro necessário para o casamento alquímico que culmina na Pedra Filosofal. O objetivo dos alquimistas é apenas fazer este processo de evolução seja mais rápido e menos sofrido.

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